sábado, maio 21, 2011

Vivendo Sem a Venda



Foi como se, durante toda a minha vida, eu tivesse vivido com uma venda nos olhos. Eu sempre tive vontade de ver além da venda, mas as pessoas que me cercavam me diziam que no mundo havia muitas coisas horríveis e que eu teria elas como parte da minha vida se eu tirasse a venda; então, por muito tempo, eu só conhecia o que me contavam sobre o mundo. Até que não pude mais aguentar. Começou com um sentimento de hipocrisia, por estar vivendo com a venda e sem estar feliz com ela. E, quando me falaram que, além das coisas más que eu teria que ver se tirasse a venda, havia coisas maravilhosas que a venda não me permitia ver, eu não pude mais viver com ela. Ao tirar, eu surpreendi a todos a quem falei que não usava mais a venda: eles não podiam perceber, porque ainda a tinham nos olhos. Não gostaram da minha atitude e me julgaram por querer viver uma vida diferente da deles. Mesmo assim, minha atitude valeu a pena: ao mesmo tempo em que as fantasias que me eram contadas enquanto estava cega se desmancharam, uma realidade maravilhosa se fez presente: a realidade de que eu não precisava fechar os olhos para encontrar a beleza, que eu não precisava fingir viver sem o mal para poder praticar o bem, a realidade de que, se há coisas horríveis para se ver e uma realidade chocante quando se tira a venda, também percebe-se a bondade das pessoas, o mundo e o universo muito melhor sem que um pano esteja a obstruir sua visão.


Marina M. Oliveira

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